As professoras Eller Cristina Müller e Eliete Corrêa se manifestaram publicamente nesta semana após novo caso de invasão e furto na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, localizada na comunidade quilombola de Itapocu, em Araquari. A ocorrência foi na madrugada desta sexta-feira (16), e as coroas de Nossa Senhora foram levadas pelos bandidos, que também vandalizaram a igreja.
O local é um dos mais importantes patrimônios culturais da população negra em Santa Catarina, reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e palco de festa centenária de devoção à santa, realizada desde o século XIX pelo povo preto.
A professora Eller, que também é ativista e descendente de negros escravizados, repercutiu a fala de Eliete Corrêa, do Itapocu, informando que esta seria a quarta ocorrência consecutiva no templo, ligado à Igreja Católica Apostólica Brasileira; em janeiro deste ano, toda a fiação elétrica da igreja foi levada.
Para Eller, os atos de vandalismo e furtos registrados não podem ser tratados como simples crimes contra o patrimônio. “Isso tem nome e se chama intolerância religiosa”, afirmou. A educadora relaciona o ocorrido à escalada de discursos de ódio e racismo religioso que têm se intensificado no Brasil nos últimos anos. “Não é apenas vandalismo, é um ataque à cultura e à fé de um povo historicamente marginalizado”, completou.
Segundo dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o Brasil registrou, apenas em 2024, um aumento de 80% nos casos de intolerância religiosa em relação ao ano anterior. Para a professora, esses números refletem uma crescente falta de respeito às diferentes expressões de fé, especialmente as de matriz africana ou ligadas à cultura negra.
“A ascensão do discurso de ódio deixou de ser apenas virtual. Os intolerantes não têm mais medo de agir. Se sentem impunes e se escondem sob um discurso hipócrita de religiosidade. Mas cristão que persegue outra religião não entendeu a mensagem de Cristo”, declarou Eller.
Ela também reforçou que o preconceito religioso está intrinsecamente ligado ao racismo estrutural. “A festa do Rosário é celebrada por uma comunidade negra, com uma santa negra, em território negro. Mas a fé que se pratica ali é universal, é em Deus, e acolhe a todos. A intolerância, nesse caso, revela uma fé pequena e um coração cheio de rancor”, lamentou.
No vídeo Eliete diz que a comunidade quilombola católica do Itapocu está “chocada” com o furto da santa. A comunidade de Itapocu, que há gerações preserva tradições afro-brasileiras, aguarda providências das autoridades e da sociedade civil em defesa de seu patrimônio e de sua liberdade religiosa.
Na visão das educadoras, a expectativa é de que o episódio sirva de alerta para a urgência de políticas públicas de combate ao racismo religioso, bem como da valorização da memória e resistência cultural dos quilombolas. Eliete pede inclusive que se alguém na região entre Morro Grande, Rainha, Corveta ou m esmo Itapocu tenham informações, que repassem às Polícia Militar e Civil.
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Foto: DIVULGAÇÃO E ARQUIVO / VIRGÍNIA YUNES E ASSOCIAÇÃO NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO.






