As ativistas defensoras da causa animal em Barra Velha estão cada vez mais revoltadas com a falta de proteção e políticas públicas com relação às zoonoses, abandonos e maus tratos de cães e gatos pela cidade. Além desta situação – que agravou-se semana passada, com imagens de cães torturados e mortos no trajeto entre Medeiros e Medeirinhos, entre Barra Velha e Balneário Piçarras, há agora um surto imenso de cinomose, segundo denuncia a protetora Gil Guimarães.
“Estamos com uma causa completamente abandonada aqui em Barra Velha, e todos os dias, estamos recebendo nem uma, nem duas, denúncias de maus tratos, na Quinta dos Açorianos, Medeiros, Medeirinhos”, aponta Gil, em vídeo. E revela: há um morador adotando cães para o crime da zoofilia, ou seja, para manter relações sexuais com os bichos. Em vídeo, a moradora orienta como efetuar a denúncia.
“Já resgatamos animais abandonados, levamos para a clínica. Uns se salvam outros não, mas e depois? Vão para onde? Nossos lares estão cheios, desgastados financeiramente, a castração não é gratuita em Barra Velha, e dizem que não tem fundo para causa animal”, reforça ela.
Segundo Gil, foi projetado um fundo público de R$ 316 mil, conforme edital da Prefeitura, para contratar uma empresa de resgate, mas as ativistas pedem mais rigor na seleção, pois há “empresas suspeitas” que não poderiam vencer o certame, pois já enfrentam suspeitas em outras cidades.
O Instituto Love Pet, do qual Gil participa, cobra o término da obra do centro de zoonoses, parada desde a prisão do prefeito Douglas da Costa (PL) e de vários dos agentes de primeiro escalão. “Poderíamos ter também os cães comunitários. Temos aqui na nossa rua um exemplo, os que foram abandonados e são bonzinhos. Fazemos a castração, vacinamos, desverminamos, damos casinha, água, ração. E eles ficam como o cão comunitário da rua. Mas nenhum órgão quer nos ouvir”, aponta ela.
Olhos arrancados
A matança de animais de rua atingiu níveis assustadores no interior de Barra Velha e Balneário Piçarras na semana que passou. Segundo moradores de Medeiros e Medeirinhos, a crueldade acabou sendo filmada pelos proprietários, revelando atropelamentos, envenenamentos e até mesmo mutilações, com cães com olhos arrancados e deixados mortos às margens da estrada.
A moradora A. mora em Itrajuba, bem perto do Medeiros, e tanto ela como seu marido já acharam vários atropelados e abandonados. “Eu retirei 10 deles da rua, que eu adotei, e agora tenho 15”, reforçou.
A. ainda reserva um espaço da casa para lar temporário, e chegou a abrigar 24 animais dois meses atrás. “Há o abandono e os maus tratos aqui em Barra Velha, e casos em que os próprios tutores colocam fora, maltratam”, detalha. A crueldade não tem divisa, já que em Balneário Piçarras, o drama é o mesmo.
Barra Velha está, desde 2022, construindo um centro público de zoonoses, no bairro Vila Paraguai. A obra da Prefeitura, entretanto, está paralisada desde que a Operação Travessia afastou e prendeu parte do comando administrativo do Município. O atual secretário de Planejamento, Marcelo Cunha, diz que o prefeito em exercício, Daniel Pontes da Cunha (PSD), solicitou a revisão de todas as obras, e espera retomar a construção do espaço de zoonoses nos próximos meses.
O secretário de Saúde de Balneário Piçarras, Rodrigo Renan Medeiros, informou à Rede Marazul que está providenciado um ofício à Polícia Civil, para registrar a ocorrência e iniciar a investigação dos fatos.