Imagine viver até os 100 anos — ou mais — e, como se isso já não fosse um privilégio raro, poder celebrar essa marca mediante um encontro histórico ao lado de duas amigas de infância. Essa é a realidade emocionante de três moradoras de Araquari, homenageadas por ultrapassarem o centenário de vida.
Dona Dica, Dona Balbina e Dona Maria Marta são testemunhas vivas de um século repleto de transformações. Elas sobreviveram à pandemia de gripe espanhola em 1918, à Primeira e à Segunda Guerra Mundial, à pandemia de COVID-19 em 2020 e enfrentaram décadas de mudanças profundas — desde os tempos sem internet, energia elétrica ou saneamento básico nas casas.
Mesmo diante de tantos desafios, mantiveram a ternura e o bom humor. Ao entrar na sala com seu andador, Dona Dica avistou a amiga de infância e, com um sorriso cúmplice, soltou: “Se prepara para dançar, Neguinha”, disse à Dona Balbina, em tom de brincadeira e afeto. Ambas têm 106 anos.
Acompanhadas de Maria Marta, que completou 100 anos, as três receberam uma homenagem especial com flores e um café da manhã caprichado, promovido pelo projeto Café e Turismo, da Secretaria de Turismo de Araquari. O evento contou ainda com a presença da Bandeira do Divino, tradição da Festa do Divino Espírito Santo, celebrada no Santuário Senhor Bom Jesus — símbolo da fé e cultura local.
Maria Soares de Oliveira, a Dona Dica, nasceu em 1º de junho de 1919. Balbina Conceição Catarina veio ao mundo em 21 de setembro de 1918. Já Maria Marta Costa nasceu em 19 de janeiro de 1925. Juntas, somam mais de 300 anos de vivências, memórias e histórias compartilhadas. Para o secretário de Turismo de Araquari, Paulino Travasso, o momento foi histórico.
“Elas conheceram a Araquari de outros tempos e ajudaram a construir a nossa história. Nada mais justo do que homenagear e agradecer por tudo que representam”, declarou.
Daia Carvalho, presidente da Fundação Municipal de Cultura, também destacou o simbolismo da homenagem.
“Elas são exemplos de resiliência e resistência. Superaram tantas dificuldades e ainda mantêm a alegria de viver.”
A cerimônia, realizada na antiga sede da Prefeitura — hoje a Casa da Cultura de Araquari — teve como ponto alto o reencontro entre as três centenárias afrodescendentes. Emocionadas, se esforçaram para reconhecer uma à outra, como quem busca, na memória, as lembranças de uma amizade que resistiu ao tempo. A presença do padre Jackson Rampellotti, do Santuário Bom Jesus, e do folião Valério dos Passos, junto a outros participantes da Festa do Divino, selou o evento com espiritualidade e emoção.
Reportagem – Any Nunes.
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