O dia da Consciência Negra tinha tudo para ser destaque positivo na Câmara de Vereadores de Penha durante a 41ª reunião ordinária, na segunda-feira (13), mas acabou com uma fala considerada racista por parte de um dos vereadores.
A sessão foi marcada pela presença do jovem Rafael Fernandes Garcia, ativista da luta antirracista e que fez uso da Tribuna Cidadã, espaço para a comunidade se manifestar em plenário.
Produtor cultural e motorista de aplicativo no Município de Penha, Rafael ressaltou a importância de se combater o racismo estrutural, arraigado em toda a sociedade, e abordou ainda a luta de lideranças como Martin Luther King, Nelson Mandela, Malcom X e outros.
“Isso é fruto de um planejamento, de um processo que levou centenas de anos, assim como um câncer que infecta toda a sociedade. Não somente os negros, mas todos fomos afetados. E nosso processo de cura deve começar antes de mais nada por nós, pessoas negras”, ressaltou.
Rafael, morador de Penha há 20 anos e filho e neto de negros penhenses, ainda lamentou a falta de apoio da atual administração de Penha para eventos relacionados à negritude, e agradeceu ao parlamentar Luiz Vailatti, o Ferrão (Podemos), pela articulação do espaço no mês da Consciência Negra.
“Sou produtor de eventos e motorista de aplicativo. Muitas pessoas olham para mim, e não me veem como penhense. Não acham que eu sou daqui”, observou, relatando a própria experiência pessoal.
A fala de Rafael foi acompanhada por militantes do movimento negro na cidade, além de familiares de Rafael, como a mãe, Rute Fernandes. Após a fala do ativista, os vereadores manifestaram apoio no combate ao racismo e reiteraram o compromisso da Câmara de Penha na promoção da igualdade e do respeito – embora o Legislativo não tenha parlamentares autodeclarados negros na atual legislatura.
Fala polêmica
Ao final da fala de Rafael, o vereador Mário Marquett (União Brasil) reforçou que não pode haver diferenças por conta da cor da pele, embora tenha usado de uma expressão fora de contexto atualmente considerada racista:
“Eu até então não conhecia o trabalho do senhor, vocês apresentaram um trabalho lindo, lindo, lindo. Quero dizer mais assim: a minha irmã é casada com pessoa de cor, e vive 30 anos, filha do seu Vanildo, assim ó, ei, pessoa maravilhosa. Tenho uma outra tia também, que é casada com um senhor de cor também, ei, maravilhoso, moreno, cara querido”, considerou Marquett.
Logo em seguida, o presidente do Legislativo, Adriano Tibeco (PSDB) tentou amenizar a fala de Marquett, citando que o parlamentar usou de “simplicidade” ao usar a expressão “de cor”.
Segundo a jornalista Tânia Fusco, o termo é irregular, pois é usado somente para pessoas negras – quando todas as pessoas, na verdade, têm uma cor. A expressão também integra o chamado “racismo linguístico”.
“O termo “pessoas de cor” era usado com a pretensão de delicadeza, uma maneira “mais suave” de indicar a condição diferente e inferior dos não brancos”, esclarece ela.
📸 Fotos Victor Miranda / Legislativo






